Era outubro de 88. Eu devia estar brincando de qualquer bobagem quando meu avô entrou no quarto, indignado, e me arrastou pela orelha até a frente da TV. Lá, senhores engravatados faziam discursos efusivos a respeito de algo que, para mim, aos 10 anos, era qualquer coisa alienígena.
Então, meu velho avô falou: "Você precisa assistir isso. É um momento histórico e, talvez, nunca mais se repita em sua vida!"
O que ele tanto fez questão que eu visse foi a promulgação da Carta Magna. Naquele momento, nosso país teria uma nova Constituição, a lei fundamental e suprema do Brasil.
E sim, graças ao meu avô, eu tenho uma perfeita lembrança daquele momento, que passaria batido em outras circunstâncias.
Claro que eu não fazia ideia do motivo de tanta comoção. Para mim foi só uma coisa chata e sem graça. Eu só queria que aquilo terminasse o quanto antes para voltar ao meu mundo de imaginação, com meus bonecos de Comandos em Ação. Entretanto, ao longo dos anos, em especial, na vida adulta, pude dizer a todos que eu estava lá. Não foi algo que aconteceu à minha revelia. Eu fui um espectador real daquele evento.
Talvez, para você que está lendo, isso não signifique absolutamente nada. Para mim, entretanto, foi muito importante.
Ter uma família que se importa em fazer com que o filho tenha ciência dos eventos mundiais relevantes e fazê-lo participar deles, mesmo que de forma extremamente passiva, foi muito importante na minha formação.
Talvez seja por isso que eu tenha lembranças tão vívidas de eventos como a queda do muro de Berlim, do fim da URSS e outras tantas tantas "coisas chatas" para a visão de uma criança.
Seguindo o meu modelo familiar, eu faço questão de ser esse pai chato, que vai tirar o filhote do meio de uma brincadeira a arrastá-lo para a frente da TV, quando algo significante esteja acontecendo. Como eu, ele, provavelmente, não entenda o motivo daquilo, mas, se ficar gravado na sua memória, eu terei conseguido o meu intento.
E já comecei cedo! Meu filho tem pouco mais de quatro meses e, obviamente, não vai se lembrar disso. No entanto, independente da minha opinião política sobre o fato, coloquei o moleque em frente à TV durante a votação, na câmara dos deputados, do processo de impeachment da presidente Dilma. E, com uma foto, registrei o momento.
Quem sabe ele, depois de adulto, veja essa foto e julgue que esse tipo de educação teve alguma relevância no seu caráter. Ou, ao contrário, pode ser algo totalmente descartável na sua formação.
Pelo menos eu fiz a minha parte!
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